Andressa Bessa da Silva Santos

As mazelas econômicas imputadas no Protagonismo da Mulher Negra

 

A presença feminina nos espaços, principalmente de poder de decisão, ainda é subjugada na sociedade em que vivemos, em pleno século XXI luta-se diariamente para o reconhecimento dos direitos constitucionais básicos das mulheres. Considerando o recorte racial, temos a figura da mulher negra que nem é considerada para tal hipótese. Portanto, verificamos que não há como comparar as oportunidades de acesso as mulheres negras em relação as mulheres brancas. Isto porque o fator cor ainda é determinante nas relações nos dias atuais.

As mulheres negras mesmo após o período escravocrata vivenciado no Brasil, carrega junto de si as mazelas econômicas, que afeta frequentemente o seu reconhecimento e ascensão social, intelectual e econômica. Os impactos do protagonismo dessas mulheres, são resultados de uma interseção complexa de fatores, incluindo históricos de discriminação sistêmica, desigualdades estruturais.

O movimento feminista surgido em 1960 nos Estados Unidos e posteriormente difundido para outros países, não comtemplaram a existência das mulheres de pele preta, isso por que elas eram as responsáveis pelos trabalhos, principalmente os domésticos, muitas eram amas de leite, objetificada sexualmente, responsáveis pelos trabalho no campo... por cuidar e nutri os filhos das mulheres brancas que não podiam trabalhar, porém lutavam pelo direito ao trabalho, e voto, antes concedido apenas aos homens. Desse modo que opção restava para as mulheres negras? Não há como falarmos em Feminismo sem inclui todas as mulheres, e muito menos em protagonismo da mulher negra, sem considerar todas as barreiras desconstruídas e as evoluções vivenciadas por essas mulheres ao longo dos anos.

O retrato do mercado de trabalho devido ao racismo, sexismo e outras formas de discriminação, faz com que mulheres negras sejam mais propensas a ocupar empregos precários, mal remunerados e sem benefícios, e têm menor chance de conseguir uma promoção e avanço na carreira. Essa realidade contribui para uma diferença salarial persistente entre mulheres negras e outros grupos demográficos.

Além disso, as mulheres negras têm taxas mais altas de desemprego e subemprego em comparação com a média da população, e muitas vezes enfrentam dificuldades adicionais devido à falta de acesso a recursos financeiros, educação de qualidade e redes de apoio profissional.

 As estatísticas específicas sobre mulheres negras em cargos de liderança no Brasil podem variar, mas geralmente refletem tendências semelhantes às observadas globalmente. Aqui estão algumas informações e tendências relevantes:

Sub-representação: As mulheres negras são significativamente sub-representadas em cargos de liderança no Brasil. Isso pode ser observado em várias áreas, incluindo empresas, política, academia e organizações sem fins lucrativos.

Recebimento de Salário inferior: As mulheres negras no Brasil também enfrentam disparidades salariais significativas em comparação com homens brancos e mesmo em comparação com mulheres brancas em posições semelhantes. Essas divergências são agravadas quando se trata de cargos de liderança.

Barreiras sistêmicas: Mulheres negras no Brasil enfrentam barreiras sistêmicas devido à interseção de racismo, sexismo e outras formas de discriminação. Isso pode incluir acesso limitado a oportunidades educacionais e de emprego, bem como preconceito institucional e cultural.

Iniciativas de inclusão: Algumas empresas e organizações no Brasil têm implementado programas e políticas para promover a diversidade e a inclusão, visando aumentar a representação de mulheres negras em cargos de liderança. Essas iniciativas podem incluir metas de diversidade, programas de mentoria e treinamento em conscientização racial.

Movimentos sociais: Movimentos sociais e ativistas no Brasil têm destacado a importância de abordar as disparidades raciais e de gênero no local de trabalho e na sociedade em geral, pressionando por mudanças políticas, legais e corporativas. Existe muito a ser feito para garantir uma representação mais justa e equitativa de mulheres negras em cargos de liderança no Brasil.

Atualmente vem ganhando cada vez mais notoriedade no ambiente coorporativo e projetos de políticas públicas, por meio das diretrizes proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) a sigla ESG refere-se a critérios ambientais, sociais e de governança (Environmental, Social, and Governance, em inglês) que as empresas consideram em suas operações e decisões de investimento. Na gestão empresarial, a integração dos princípios ESG pode ter diversos impactos positivos.

Desempenho Financeiro Sustentável: Empresas que adotam práticas ESG tendem a ter desempenho financeiro mais estável a longo prazo. Isso ocorre porque considerações ambientais, sociais e de governança podem mitigar riscos e identificar oportunidades de investimento.

Atratividade para Investidores: Investidores estão cada vez mais considerando fatores ESG ao tomar decisões de investimento. Empresas com boas práticas ESG podem atrair mais investidores e podem ter acesso a financiamento mais fácil e a custos mais baixos.

Reputação e Marca: As práticas ESG podem melhorar a reputação da empresa e fortalecer sua marca. Consumidores e partes interessadas estão cada vez mais atentos às questões ambientais e sociais, e empresas que demonstram responsabilidade nessas áreas podem ganhar a confiança e a lealdade dos clientes.

Gestão de Riscos: A consideração dos fatores ESG pode ajudar as empresas a identificar e mitigar riscos, como riscos legais, regulatórios, de reputação e de operações. Isso pode levar a uma gestão mais eficaz dos riscos e, consequentemente, a uma maior resiliência da empresa.

Inovação e Eficiência Operacional: A adoção de práticas ESG pode incentivar a inovação e melhorar a eficiência operacional. Por exemplo, a implementação de tecnologias ambientalmente amigáveis pode reduzir os custos operacionais e diminuir o impacto ambiental.

Atração e Retenção de Talentos: Funcionários, especialmente os da geração mais jovem, valorizam cada vez mais o propósito e os valores das empresas onde trabalham. Empresas com práticas ESG sólidas podem ser mais atrativas para talentos e podem ter maior facilidade em reter funcionários engajados.

Em suma, a integração de critérios ESG na gestão empresarial pode trazer uma série de benefícios, incluindo desempenho financeiro sustentável, atratividade para investidores, fortalecimento da reputação da marca, melhor gestão de riscos, incentivo à inovação e eficiência operacional, e atração e retenção de talentos. Porém é necessário que a gestão esteja atenta, desenvolva projetos fiscalizatório paro que haja o cumprimento do objetivo principal trazido pela ESG, e não utilizar apenas para mero selo de valor perante aos investidores e oportunidades de negócios.

Conclui-se que valorizar e reconhecer a capacidade intrínseca das mulheres negras é ir muito além de proporciona a ela mais desafios a serem enfrentados, perante a força que elas naturalmente carregam. Mas, reduzir os impactos sociais por elas carregados, através do conhecimento e estabelecer políticas públicas e privadas para o seu desenvolvimento pessoal, uma ferramenta poderosa que se criar novas formas de crescimento, como por exemplo o empreendedorismo feminino negro, ainda tão pouco percebido dentro do cenário negro.

 O Empreendedorismo Negro e os mecanismos de invisibilizar sua ascensão.

Falamos em direitos, condições sociais básicas, mais é preciso ir além e traz a luz os reflexos da educação financeira na prática diária das mulheres e meninas negras. Uma vez que elas são também a maioria que sofrem, morrem em virtude da violência doméstica, vinculo muitas vezes mantido, por não possuírem independência financeira. E o empreendedorismo é peça crucial para que as mulheres, ainda que de forma simples, obtenha recursos para manutenção familiar e de si mesma.

O empreendedorismo negro no Brasil é uma parte vital da economia do país, e sua importância está crescendo cada vez mais. Empreendedores negros têm desempenhado um papel fundamental na criação de negócios e na geração de empregos em comunidades por todo o país. No entanto, são apenas alguns jovens negros que se destacam, é uma minoria que através de muitos esforços conseguem não apenas subsistir, eles frequentemente enfrentam desafios únicos, incluindo acesso limitado a capital, redes de contatos restritas e discriminação racial.

Na prática para promover o empreendedorismo negro, várias iniciativas precisam ser implementadas. Como por exemplo, programas de mentoria, acesso a financiamento especializado, redes de apoio empresarial e políticas públicas que visam reduzir as desigualdades raciais no ambiente de negócios. Além disso, há um crescente reconhecimento da importância de se apoiar empresas lideradas por pessoas negras, não apenas por questões de equidade, mas também por seu potencial de inovação e contribuição para a economia como um todo. Eles estão não apenas construindo negócios bem-sucedidos, mas também servindo como modelos e mentores para as futuras gerações de empreendedores negros.

No entanto, é importante ressaltar que ainda há muito a ser feito para eliminar as barreiras enfrentadas pelos empreendedores negros no Brasil. Isso inclui a necessidade contínua de políticas públicas mais inclusivas, programas de capacitação empresarial específicos e uma mudança cultural que promova a diversidade e a igualdade de oportunidades em todos os setores da economia.

A educação financeira é uma ferramenta poderosa para capacitar jovens negros e de áreas periféricas a alcançarem estabilidade financeira e construírem um futuro mais próspero. É preciso quebra as crenças limitantes oriundas de tempos remotos que bloqueiam o crescimento financeiro, uma vez que muitas pessoas não gostam de falar no assunto dinheiro, mas que é necessário analisar, controlar e investir os ganhos recebidos, que seja na atividade laboral ou empreendedora.

Conscientização sobre Realidade Financeira: É crucial entender a situação financeira atual e os obstáculos enfrentados. Isso inclui compreender questões como disparidade de renda, acesso limitado a oportunidades econômicas e histórico de exclusão financeira.

Orçamento e Controle de Gastos: Ensine a elaboração de um orçamento detalhado, identificando receitas e despesas. Apresente ferramentas simples, como planilhas ou aplicativos de gerenciamento financeiro, para acompanhar os gastos diários e mensais.

Educação sobre Crédito e Endividamento: Compreender os conceitos de crédito, juros e endividamento responsável. Alertar sobre os perigos de empréstimos compulsórios e orientar sobre o uso responsável do crédito é fundamental.

Investimentos e Poupança: Introduza o conceito de poupança e investimento a longo prazo. Mesmo com renda limitada, é possível começar pequeno e construir um patrimônio ao longo do tempo. Explique diferentes opções de investimento, como poupança, CDBs, Tesouro Direto, entre outros.

Empreendedorismo e Geração de Renda: Incentive o empreendedorismo como uma alternativa para gerar renda adicional. Ofereça orientação sobre como iniciar um negócio próprio, desde a identificação de oportunidades até a gestão financeira do empreendimento.

Acesso a Recursos e Oportunidades: Informe sobre programas governamentais de apoio financeiro, bolsas de estudo, capacitações gratuitas e outras oportunidades disponíveis para jovens de baixa renda.

Mentoria e Networking: Estimular a formação de redes de apoio entre os jovens, conectando-os a mentores e profissionais que possam oferecer orientação e oportunidades de crescimento.

Resiliência Financeira e Planejamento de Longo Prazo: Enfatize a importância da resiliência financeira, incentivando a criação de um plano de longo prazo e a adaptação a mudanças econômicas e imprevistos.

Recursos adicionais como workshops, palestras, grupos de estudo e materiais educativos específicos para jovens negros e de áreas periféricas podem complementar essas orientações, proporcionando um ambiente de aprendizado inclusivo e acessível.

educação financeira na formação de meninas e jovens negros

Desde cedo, preparando-os para lidar com os desafios financeiros e alcançar independência econômica

Inclusão desde a infância: Introduza conceitos básicos de educação financeira desde a infância, por meio de atividades lúdicas e exemplos práticos adaptados à idade. Isso pode incluir jogos, histórias e atividades em grupo que ensinem sobre a importância de economizar, planejar e tomar decisões financeiras responsáveis.

Desenvolvimento de habilidades de gestão financeira: Ensine meninas e jovens negros a criar e manter um orçamento pessoal, acompanhar despesas, definir metas financeiras e tomar decisões conscientes sobre o uso do dinheiro.

Conscientização sobre disparidades econômicas: Aborde questões de desigualdade econômica e racial de maneira acessível, destacando os desafios específicos enfrentados por meninas e jovens negros em relação ao acesso a oportunidades financeiras e emponderando-os a superar essas barreiras.

Empoderamento econômico e igualdade de gênero: Promova a autonomia financeira das meninas, incentivando-as a desenvolver habilidades para gerar renda, investir e tomar decisões financeiras independentes. Enfatize a importância da igualdade de gênero no acesso a oportunidades econômicas e no empoderamento financeiro.

Modelagem de comportamentos financeiros saudáveis: Sirva como um modelo positivo ao demonstrar práticas financeiras responsáveis, como economizar, investir, evitar dívidas desnecessárias e buscar oportunidades de crescimento econômico.

Mentoria e orientação: Facilite oportunidades para que meninas e jovens negros tenham acesso a mentores e profissionais que possam oferecer orientação e apoio na construção de suas habilidades financeiras e na busca de objetivos de carreira relacionados à área financeira.

Inclusão de histórias inspiradoras: Compartilhe histórias de sucesso de mulheres e jovens negros que superaram desafios financeiros e alcançaram independência econômica, inspirando os alunos a acreditar em seu potencial e perseguir seus objetivos financeiros.

Acesso a recursos e oportunidades: Conecte meninas e jovens negros a programas de educação financeira, bolsas de estudo, estágios e outras oportunidades que possam ajudá-los a expandir seus conhecimentos financeiros e avançar em suas carreiras.

Ao integrar essas estratégias na formação de meninas e jovens negros, é possível capacitá-los a tomar controle de suas finanças, superar desafios econômicos e alcançar seus objetivos pessoais e profissionais.

A invisibilidade do empreendedorismo negro é um problema persistente que afeta as comunidades negras em muitos países. Muitas vezes, empreendedores negros enfrentam barreiras estruturais e sociais que dificultam o reconhecimento e o sucesso de seus negócios. Isso pode incluir acesso limitado a capital inicial, redes de contatos menos desenvolvidas e discriminação institucionalizada.

A falta de visibilidade dos empreendedores negros também pode ser atribuída à falta de representatividade nos espaços de mídia e empreendedorismo, onde as histórias de sucesso dos empreendedores brancos muitas vezes recebem mais destaque. Isso cria um ciclo em que os empreendedores negros têm menos oportunidades de serem vistos e reconhecidos, o que por sua vez dificulta ainda mais seu sucesso.

Para combater essa invisibilidade, é crucial destacar e apoiar os empreendedores negros em suas comunidades e além. Isso pode ser feito por meio de programas de mentoria, investimento financeiro, e promoção ativa de seus negócios em plataformas de mídia e redes sociais. Além disso, políticas que visam reduzir as disparidades raciais no acesso a recursos e oportunidades também são essenciais para criar um ambiente mais inclusivo para o empreendedorismo negro prosperar.

O mercado de trabalho e a ascensão profissional das mulheres negras são temas cruciais que refletem não apenas desafios, mas também oportunidades de mudança e equidade. Historicamente, as mulheres negras enfrentaram diversas formas de discriminação e obstáculos no acesso ao mercado de trabalho e no desenvolvimento de suas carreiras.

No entanto, ao longo das últimas décadas, houve avanços significativos impulsionados por movimentos sociais, políticas de inclusão e conscientização sobre a importância da diversidade e da igualdade de oportunidades. Ainda assim, muitas barreiras persistem.

Entre os desafios enfrentados pelas mulheres negras no mercado de trabalho estão a discriminação racial e de gênero, a falta de representatividade em cargos de liderança e a disparidade salarial em comparação com homens brancos e até mesmo mulheres brancas em posições similares. Além disso, a falta de acesso à educação de qualidade e de redes de apoio profissional também pode limitar suas oportunidades de ascensão.

Para promover a ascensão profissional das mulheres negras, é fundamental adotar medidas que combatam o racismo estrutural, promovam a diversidade e a inclusão nas empresas e instituições, além de políticas públicas que garantam igualdade de oportunidades em todas as etapas da vida profissional, desde a educação até o mercado de trabalho. Isso inclui a implementação de programas de capacitação, mentoria e desenvolvimento de liderança específicos para mulheres negras, bem como a criação de políticas de promoção da igualdade salarial e de combate ao assédio e discriminação no ambiente de trabalho.

Além disso, é importante valorizar e reconhecer as contribuições das mulheres negras em todos os setores da sociedade, promovendo uma cultura organizacional que celebre a diversidade e o respeito às diferenças. A inclusão de vozes e experiências diversas não apenas fortalece as empresas e instituições, mas também contribui para uma sociedade mais justa e equitativa.

As estatísticas sobre mulheres negras em cargos de liderança variam dependendo do país, setor e método de coleta de dados. No entanto, em muitos lugares, as mulheres negras ainda estão sub-representadas em posições de liderança em comparação com suas contrapartes brancas e homens negros. Aqui estão algumas tendências comuns:

Sub-representação: As mulheres negras geralmente ocupam uma parcela significativamente menor de cargos de liderança em comparação com mulheres brancas e homens negros. Isso pode ser observado em vários setores, incluindo empresas, política, educação e organizações sem fins lucrativos.

Barreiras sistêmicas: Mulheres negras muitas vezes enfrentam barreiras sistêmicas adicionais, como racismo e sexismo combinados, que podem dificultar sua progressão na carreira e acesso a oportunidades de liderança.

Diferenças salariais: Em muitos casos, as mulheres negras também enfrentam disparidades salariais em comparação com seus colegas brancos e homens, mesmo quando ocupam posições semelhantes de liderança.

Iniciativas de inclusão: Algumas empresas e organizações têm implementado iniciativas específicas para aumentar a representação de mulheres negras em cargos de liderança, incluindo programas de mentoria, treinamento de diversidade e inclusão e políticas de recrutamento mais inclusivas.

Progresso gradual: Embora ainda haja muito a ser feito, há evidências de progresso gradual em direção a uma maior representação de mulheres negras em cargos de liderança, impulsionado por mudanças culturais, pressão da sociedade e políticas de diversidade corporativa.

Essas tendências destacam a importância contínua de promover a igualdade de oportunidades e abordar as disparidades sistêmicas que afetam as mulheres negras no local de trabalho e na sociedade em geral.

 

*Andressa Bessa da Silva Santos é Membro Especial da Comissão de Igualdade Racial de Cachoeiro de Itapemirim. Contadora e Membro da Comissão Estadual da Mulher Contabilista - CRCES

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